quinta-feira, 5 de março de 2020

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domingo, 9 de fevereiro de 2020

POR QUE TIVEMOS NOSSA CASA BATIZADA?


POR QUE TIVEMOS NOSSA CASA BATIZADA?

Se alguém tivesse perguntado aos pais de Moisés por que eles colocaram seu filho na arca de juncos no rio, sem dúvida eles poderiam ter dado uma resposta, porque a Palavra de Deus nos diz que foi pela fé que “Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei” (Hb 11:23). Procuraremos, portanto, numa forma humilde, dizer por que tivemos nossos filhos colocados nas águas do batismo, não no sentido de pressionar outros a esse respeito como uma doutrina, mas porque devemos estar “preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pd 3:15).
A dificuldade na mente de muitos Cristãos é que, como eles sabem que uma pessoa verdadeiramente salva deve ser batizada, hesitam até mesmo em considerar tal coisa como o batismo de uma casa Cristã. Vamos considerar o assunto em oração e sob a luz da Palavra de Deus. Em primeiro lugar notemos que o batismo é um privilégio – é a entrada na posição de levar o nome de Cristo (Gl 3:27). A ordem é para aquele que batiza, pois deve haver autoridade em usar o nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28:19). Em Atos 10:48 foi uma ordem para aqueles que batizaram. Pedro disse: “Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?” (v. 47). Poderia haver judeus ali que poderiam negar esse privilégio aos gentios, pois eles não estavam preparados para recebê-los (At 11:1-18), mas Pedro ordenou que não lhes fosse impedida essa posição e privilégio, mas que fossem batizados. O pedido do eunuco etíope: “que impede que eu seja batizado?” mostra que ele não olhou para o batismo como uma ordem, mas perguntou se poderia participar de tal privilégio (At 8:36).[1]
Já que é um privilégio, a próxima questão é ‘quem pode compartilhar desse privilégio’? Uma consideração cuidadosa disso também é útil. Um versículo que se costuma usar para afirmar que apenas os salvos devem ser batizados é Marcos 16:16, e posso dizer que muitas vezes é citado incorretamente empregado como se dissesse: “creia e seja batizado”, mas leiamos com atenção: “Quem crer e for batizado será salvo”. Há alguns pontos a serem notados aqui. O versículo não diz em que época da vida a pessoa foi batizada, mas, na sabedoria de Deus, ele está expresso de tal forma que a pessoa pode ter sido batizada antes ou depois de ter crido. É simplesmente falado “for batizado”, pois há apenas um batismo Cristão (Ef 4:5). Notemos também que o versículo diz “será salvo”, e isso está não antes, mas após o batismo. Isso é tornado mais claro em 1 Pedro 3:21, onde fala “que também agora, por uma verdadeira figura-o batismo, vos salva – AIBB. A pessoa não é vista como estando na posição de salva a não ser após o batismo. Isso é uma figura, como diz o versículo, de como alguém entra nessa nova posição, porque o batismo é uma figura da morte.
Assim, se toda a Escritura que diz respeito ao batismo for cuidadosamente considerada, será visto que batismo sempre tem a ver com uma posição exterior. Consideremos Atos 2:40, onde Pedro exorta os judeus: “Salvai-vos desta geração perversa”. A alma de alguém não é salva pelo batismo; nisto a Escritura é abundantemente clara, mas alguém pode ser trazido a uma posição externa pelo batismo e isso é o que a Escritura ensina claramente. Marcos 16:16 mostra que o batismo não salva a alma, porque no final do versículo fala, “mas quem não crer será condenado”. A condenação é para aqueles que não creem, sem qualquer menção a batismo. Então, em Atos 2, Pedro se dirige aos judeus que haviam dito pouco antes “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25), e disse-lhes: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2:38 – ARA). Ele não lhes disse que fossem batizados porque sabiam que seus pecados tinham sido perdoados, e porque eles eram habitados pelo Espírito Santo, mas para a remissão dos pecados e recebereis” o dom do Espírito Santo. Então, em Atos 8 onde temos os samaritanos sendo introduzidos, eles foram batizados com água antes que recebessem o Espírito Santo (At 8:15-16). Em Atos 10, se referindo aos gentios, lemos que lhes foi dito que cressem no Senhor Jesus para a remissão dos pecados, e então receberam o Espírito Santo e foram batizados depois (At 10:43-48).
Certamente, uma consideração em oração dessas Escrituras deixa claro que devemos ter muito cuidado em não fazer uma declaração tal como, “Uma pessoa deve certamente saber que seus pecados foram perdoados antes que ela possa ser batizada”, pois aqueles em Atos 2 não sabiam isto, mas foram batizados “para remissão [perdão] dos pecados”. Nem podemos dizer, com base nas Escrituras, que uma pessoa deve ser habitada pelo Espírito Santo antes que possa ser batizada, pois os samaritanos foram batizados antes que recebessem o Espírito Santo. Podemos ver que declarações como essas não se sustêm quando testadas pela Palavra de Deus.
Ora, se virmos o modo como o batismo é apresentado nas Escrituras, tudo é esclarecido imediatamente. Ele é consistentemente usado para representar a tomada de uma nova posição, seja na passagem dos filhos de Israel através do Mar Vermelho, considerado como sendo batismo e como figura em 1 Coríntios 10, seja no batismo de João, ou no batismo Cristão, sempre é esse o pensamento. Uma vez que os filhos de Israel haviam sido “batizados em [para – JND] Moisés, na nuvem e no mar” (1 Co 10:2), foram vistos posicionalmente como o povo de Deus, apesar de nem todos terem fé (Hb 4:2). Aqueles que foram batizados por João Batista tomaram seu lugar posicionalmente apartados da nação culpada de Israel (Lc 7:29-30). E agora, no batismo Cristão em Atos 2, os judeus disseram: “Seu sangue esteja sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25). Se eles quisessem “se salvar” dessa posição, eles deveriam ser batizados. Eles deveriam entrar na posição onde a remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo seriam obtidos por fé em Cristo. E quanto aos seus filhos sobre quem eles colocaram aquela sentença de culpa? Pedro diz: “a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos” (At 2:39). Quão precioso para a fé! Este pensamento não era novo nos caminhos de Deus, pois no batismo para Moisés, em 1 Coríntios 10, os filhos de Israel trouxeram os seus pequeninos do Egito, mostrando que acreditavam na promessa de que Deus os levaria a Canaã. Isto é mais notável porque Deus não havia dito a eles para trazer seus pequeninos, mas Moisés em fé disse: “Havemos de ir com os nossos meninos, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas” (Êx 10:9).
Para que não limitemos isso a Israel, temos três exemplos do batismo de casas Cristãs entre os gentios; a casa de Lídia, a casa do carcereiro de Filipos e a casa de Estéfanas. Aqui está uma mãe com sua casa batizada; um pobre carcereiro que foi salvo, e que acreditou na promessa para sua casa; e um pai cuidadoso e piedoso, cuja família inteira era dedicada ao ministério dos santos (At 16:15, 31-33; 1 Co 1:16). Porém alguns dirão que essas passagens não nos dizem que havia pequenos nas famílias mencionadas. Sem dúvida, há um motivo para o silêncio das Escrituras neste assunto, pois eu digo novamente, como observei no início, que o batismo de casas não é uma ordem, mas um privilégio, do qual os pais podem ou não se apossar. Não foi dito aos pais de Moisés que colocassem seu filho (a quem eles viram como “formoso para Deus”) numa arca de juncos, mas eles o fizeram, e Deus honrou a fé deles. Aos pais de Samuel não foi dito para apresentarem seu filho pequeno ao Senhor junto com a oferta de um novilho, mas eles fizeram, e Deus também honrou a fé deles.
Podemos ver, portanto, que a questão do batismo de famílias Cristãs é uma questão de fé. Se eu, como o carcereiro de Filipos, pudesse apresentar meu filho, nascido em pecado, ao Senhor, em que fundamento eu poderia fazer isso? A Escritura me dá o conhecimento de uma promessa: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa” (At 16:31). Ela também me diz que os filhos de pais Cristãos são “santos” (1 Co 7:14). Isso não significa que eles não têm natureza pecaminosa, pois todos a têm, mas o que isso poderia significar, senão que eles são especialmente privilegiados por nascerem em uma casa Cristã? Agora, se Deus nos tivesse dito claramente que as crianças devessem ser batizadas na fé de seus pais no Novo Testamento, não seria necessário que fossemos exercitados a esse respeito. Todos os pais Cristãos o fariam sem qualquer exercício pessoal de fé para com seus filhos, e não é assim que o batismo da casa Cristã é trazido diante de nós na Escritura.
Por que, então, batizamos nossos filhos? Não vemos o batismo de famílias Cristãs como um mandamento, mas não existem princípios definidos na Bíblia que nos encorajam a isso? A arca de juncos, o Mar Vermelho, o bezerro morto são todas figuras da morte. O batismo também é uma figura da morte, e a única forma de bênção agora é na morte de Cristo (Rm 6:4). Acreditamos que, no batismo de nossa casa, podemos reconhecer diante de Deus que somente por meio da morte de Cristo é que podemos buscar a salvação para eles. Ele conhece nosso coração, mas em vez de confiar em nosso treinamento para começar a receber a bênção prometida, colocaríamos a criança nas águas da morte e depois a receberíamos de volta para treinamento ao Senhor. (Ef 6:4). Quando a filha de Faraó trouxe Moisés para a corte, Faraó poderia ter dito: “Este menino deve ser jogado no rio”, ao que ela poderia responder: “Ele estava no rio e eu o tirei dali”. (o nome de Moisés significa “retirado”). Ele foi então devolvido a sua própria mãe com as palavras: “Leva este menino, e cria-mo; eu te darei teu salário” (Êx 2:9). Não é maravilhoso que os pais Cristãos hoje possam tirar seu filho para fora? Por que os pais iriam querer ter filhos se eles não tivessem uma promessa para eles? E quem iria querer que a salvação de seus filhos dependesse da sua fidelidade em treiná-los?
Para nosso coração isso é muito humilhante, mas também doce, que o crédito pelo treinamento deles não seja para nós, nem por nada do que possamos fazer. Toda bênção depende da morte de Cristo (figurada no batismo) e da fidelidade de Deus à Sua promessa para a nossa casa. Os trabalhos seguem e quão diligentemente os pais de Moisés devem ter treinado aquele menino para o Senhor, tendo-o recebido de volta das águas da morte. E com que diligência qualquer pai que em fé tem se apropriado da promessa para sua casa, treinará seus filhos com uma humilde confiança, não dependendo de seu treinamento, mas da fidelidade de Deus!
Alguns levantarão a questão dos versos em Romanos 6, dizendo como poderia um pequeno filho caminhar em novidade de vida, mas leiamos com atenção: “De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4). Esse é o objetivo. Como podemos educar nossos filhos “na disciplina e admoestação do Senhor” se nunca os tivéssemos submetido ao senhorio de Cristo? Existem certos requisitos de cidadania para um país, mas muitos que estão legitimamente nessa posição, não a entendem. Assim, Romanos 6 simplesmente traz diante de nós o que o batismo significa, mas não declara que todos os batizados tenham tomado posse da verdade que ele traz. De fato, é bastante evidente que muitos não a tem, de outra forma a exortação não teria sido necessária.
Em Gálatas 3:27 diz: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo”. É claro para todos que, quando se fala de ter se revestido de Cristo, isso não significa que sua alma foi realmente salva por batismo, pois muitos professantes foram batizados, mas cuja alma nunca foi salva. Mesmo assim, o nome de Cristo foi colocado sobre eles no batismo. Pelo batismo, uma pessoa se identifica posicionalmente com a morte de Cristo e o Seu Nome é colocado sobre ele, seja verdadeiramente nascido de novo ou não. Eu apenas menciono estas Escrituras porque são uma dificuldade para alguns, mas, na realidade, tornam ainda mais claro o que realmente significa o batismo.
Alguns dirão que uma criança tem uma grande perda se for batizada antes da idade do entendimento e, de certo modo, é verdade. Aqueles que foram batizados a Moisés no Mar Vermelho, sabendo e entendendo essa maravilhosa libertação do Egito, tiveram uma alegria muito real, como mostra o cântico de Êxodo 15, mas não devemos nos esquecer a alegria, diferente mas também muito real, que teria sido a porção das crianças que descobriram mais tarde que seus pais as tiraram do Egito por fé antes que elas pudessem sequer entender. Não há também uma alegria muito real para as crianças de hoje cujos pais as batizaram com fé? Deveríamos negar-lhes essa alegria para dar-lhes a alegria de entendê-lo mais tarde?
Para encerrar, eu recomendaria este artigo à consciência de todos os que o leem, para buscar as Escrituras por si mesmos e serem exercitados perante o Senhor. Alguém procuraria mostrar o que achamos que aprendemos com as Escrituras para nós mesmos, mas não sugerimos que alguém aja baseado na fé de outro. “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus” (Rm 14:22). É exatamente pela própria alma de alguém o porquê de o batismo na casa Cristã estar, por assim dizer, oculto na Escritura.
G. H. Hayhoe





[1] N. do T.: A versão de J. N. Darby omite o versículo 37, colocando a seguinte nota de rodapé: “O versículo 37 na versão King James é reconhecido como não genuíno”.